domingo, 21 de abril de 2013

Experimento sonoro "Eu, Helena, Guitarra #01"

De uns meses pra cá, a página Negativo no facebook esteve meio abandonada, assim como este blog. No entanto, não é por falta de material, mas por falta de uma ruptura com a inércia que (pre)domina o cotidiano.

Tentando ir na contramão do processo de afirmações autoritárias e sufocantes que é a vida normal, resolvo aproveitar a atual conjuntura política/cultural (terrorismo midiático/corporativo, campanhas pró-encarceramento em massa, acensão de figuras conservadoras nas "instituições de poder", entre outras) para por em prática a (anti)arte de "negar uma realidade apresentada como absoluta".

"Eu, Helena, Guitarra #01" é um som provavelmente ainda não terminado, em estado cru. Gravado em meados de outubro e 2012, com participação de Helena de Carvalho Angelin, de então 1 ano de idade. Possivelmente esse som servirá de base para um futuro experimento audiovisual.
 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Saldo Negativo





Arteiro...
Muitas vezes não me julgo artista. Não sou especialista, e tampouco profissional de arte (no sentido convencional do termo).
Não sei se "trabalho" com arte também... se for pensar bem, minha prática artística diverge do trabalho (ou tripalium). Eu mais vagabundeio com a arte do que trabalho.
"Sobreviver" com o que se faz, sim, também o quero, assim como os artistas, mas isso é um tópico para outra conversa...

Nessa minha mais recente aventura nas artes plásticas, "Negativo", tive (e tenho) grandes dificuldades de lidar com a conclusão das obras. Acho que todas as que fiz, ainda estão em processo de produção...
É difícil dar um título para as obras, difícil saber do que se tratam, de onde veio o impulso para a realização de cada uma. Difícil saber se já cheguei onde queria, se de fato é uma obra legítima...

Agora, depois de todo o furor das vésperas da exposição, cheguei a algumas conclusões importantes:
1 - Danem-se as opiniões alheias. Qualquer opinião que não venha de mim está isenta do processo criativo em si, portanto, isenta da essência da obra. Não importa se acham que o quadro está muito vermelho ou se os traços parecem feitos no paintbrush, o que me importa mesmo é que o processo ME transformou, e um comentário como "nossa, é isso!" ou "não gostei", servem como confirmações de algo que já senti, que o processo foi vivo e verdadeiro e tocou ou incomodou alguém mais além de mim (caso contrário, haveria indiferença);
2 - Dane-se a exposição. Planejei uma grande mostra, e terminei fazendo 30% do que imaginei, mas o processo foi 200% mais intenso do que pensei que seria. Eu poderia ter feito uma exposição de apenas uma obra e mesmo assim seria uma exposição. Minha arte não é espetáculo, é vivência, experimentação, processo;
3 - Dane-se a genialidade, eu não sou Kandinsky. Minha arte não veio para conectar as pessoas com o sagrado universal. Meu transcendental vem do lixo, dos recortes de jornais, imagens copiadas da internet, respingos de spray e frases de zines punks e panfletos comerciais e religiosos. Por enquanto, não escolhi o caminho do certo, escolhi o caminho do erro repetido inúmeras vezes, criando um reflexo, uma simetria com o discurso e estratégia utilizados pela mídia. Acho Kandinsky incrível, mas atualmente minha arte tá mais pra Mr. Brainwash. Um dia eu escrevo "Do picaretismo na arte".

Quando perguntei para algumas pessoas ao que tal ou tal obra remetiam, foi legal ouvir as diversas respostas, mas nenhuma delas me falou sobre a obra que fiz, mas sobre a própria pessoa que respondia. Isso me faz pensar que só vemos a nós mesmos; os objetos, as pessoas e tudo mais são apenas espelhos. Isso me remete à infinita discussão sobre os "limites" entre o individual e o coletivo, somos o Todo ou o Todo nos engloba?

Cansei de respostas (f)rígidas, exatas (nem mesmo a matemática é exata) e convictas. Por isso, criei um projeto de negação, inspirado em outras aventuras artísticas que também negaram (punk, dada, anti-arte). Não quero exaltar a decadência, isso a nossa educação e a cultura dominante já fazem muito bem. Quero abrir possibilidades de imaginação, criação e destruição, utilizando muito da "munição inimiga", rebatendo invertida e destorcidamente o discurso que tentam todos os dias nos fazer engolir.

Sou apenas um Juliano brincando e brigando na arte (seja lá o que isso for).

quinta-feira, 1 de novembro de 2012


A ditadura do fazer mecânico, domesticado, inerte é  imposta e perpetuada por meio de afirmações, ora sutis, ora explícitas, porém sempre rígidas, contidas nos ângulos retos dos prédios, na solidez metálica das máquinas, nos números imutáveis percorridos pelos ponteiros, nas palavras velhas e gastas, ouvidas e faladas repetidas todos os dias nos vagões, nas ruas, nos estabelecimentos, nos lares.

É chegado o tempo de contra-atacarmos, de destruir os falsos consensos acerca da realidade, forjados sob a luz de uma cultura excludente e violenta.
Até  ontem aceitamos os Nãos que nos foram impostos, afirmamos as vontades do chicote domesticador e negamos o que queríamos, legitimamos as regras para nos anular. Porém, hoje estamos aqui para negar o Não que nos dizem todos os dias (por meio das arquiteturas, dos horários fixos, das relações institucionalizadas), para abrir possibilidades e trazer à superfície a infinidade de matizes que esteve oculta sob essa insistente camada de ordens que tornou a vida insossa e sem cores.

terça-feira, 30 de outubro de 2012


A vocês, mantenedores da ordem e da paz social.
A vocês, adoradores das normas e da “boa conduta”.
A vocês, frígidos amantes da segurança e da estabilidade.

Não mais aceitaremos as verdades que vocês fabricaram e nos enfiaram mucosas a dentro.
Não mais aceitaremos suas desculpas para cada massacre, seja ele estrondoso e fulminante ou lento e sufocante que vocês organizam e realizam visando manter a ordem da sociedade.
Não nos contentam suas promessas de felicidade sustentadas em máquinas, autômatos, variedades de plásticos, açúcares, cosméticos, finais felizes, aspirinas, antidepressivos e outras anestesias.
Não nos excitam seus modelos frios e fórmulas mecânicas de prazer.
Não mais aceitaremos seus padrões de gênero e normalidades sexuais.

Atacamos, com nossas ações negativas e abrimos possibilidades para criarmos muito mais do que suas afirmações limitadas e mediocrizantes um dia permitiram criar.
Somos um (anti)movimento de uma, duas, dez ou dez milhões de pessoas sem fé nos modelos de humanidade, de futuro, de conhecimento, de educação, de saúde, de beleza, de felicidade, de produção e de consumo que vêm sendo afirmados pelas culturas dominantes ao longo da história.

Acreditamos no potencial criativo da negação e evocamos o caos, o indefinido, o desconhecido e o inusitado para tocar a música a qual dançarão as profundas transformações necessárias a cada pessoa.