sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Saldo Negativo





Arteiro...
Muitas vezes não me julgo artista. Não sou especialista, e tampouco profissional de arte (no sentido convencional do termo).
Não sei se "trabalho" com arte também... se for pensar bem, minha prática artística diverge do trabalho (ou tripalium). Eu mais vagabundeio com a arte do que trabalho.
"Sobreviver" com o que se faz, sim, também o quero, assim como os artistas, mas isso é um tópico para outra conversa...

Nessa minha mais recente aventura nas artes plásticas, "Negativo", tive (e tenho) grandes dificuldades de lidar com a conclusão das obras. Acho que todas as que fiz, ainda estão em processo de produção...
É difícil dar um título para as obras, difícil saber do que se tratam, de onde veio o impulso para a realização de cada uma. Difícil saber se já cheguei onde queria, se de fato é uma obra legítima...

Agora, depois de todo o furor das vésperas da exposição, cheguei a algumas conclusões importantes:
1 - Danem-se as opiniões alheias. Qualquer opinião que não venha de mim está isenta do processo criativo em si, portanto, isenta da essência da obra. Não importa se acham que o quadro está muito vermelho ou se os traços parecem feitos no paintbrush, o que me importa mesmo é que o processo ME transformou, e um comentário como "nossa, é isso!" ou "não gostei", servem como confirmações de algo que já senti, que o processo foi vivo e verdadeiro e tocou ou incomodou alguém mais além de mim (caso contrário, haveria indiferença);
2 - Dane-se a exposição. Planejei uma grande mostra, e terminei fazendo 30% do que imaginei, mas o processo foi 200% mais intenso do que pensei que seria. Eu poderia ter feito uma exposição de apenas uma obra e mesmo assim seria uma exposição. Minha arte não é espetáculo, é vivência, experimentação, processo;
3 - Dane-se a genialidade, eu não sou Kandinsky. Minha arte não veio para conectar as pessoas com o sagrado universal. Meu transcendental vem do lixo, dos recortes de jornais, imagens copiadas da internet, respingos de spray e frases de zines punks e panfletos comerciais e religiosos. Por enquanto, não escolhi o caminho do certo, escolhi o caminho do erro repetido inúmeras vezes, criando um reflexo, uma simetria com o discurso e estratégia utilizados pela mídia. Acho Kandinsky incrível, mas atualmente minha arte tá mais pra Mr. Brainwash. Um dia eu escrevo "Do picaretismo na arte".

Quando perguntei para algumas pessoas ao que tal ou tal obra remetiam, foi legal ouvir as diversas respostas, mas nenhuma delas me falou sobre a obra que fiz, mas sobre a própria pessoa que respondia. Isso me faz pensar que só vemos a nós mesmos; os objetos, as pessoas e tudo mais são apenas espelhos. Isso me remete à infinita discussão sobre os "limites" entre o individual e o coletivo, somos o Todo ou o Todo nos engloba?

Cansei de respostas (f)rígidas, exatas (nem mesmo a matemática é exata) e convictas. Por isso, criei um projeto de negação, inspirado em outras aventuras artísticas que também negaram (punk, dada, anti-arte). Não quero exaltar a decadência, isso a nossa educação e a cultura dominante já fazem muito bem. Quero abrir possibilidades de imaginação, criação e destruição, utilizando muito da "munição inimiga", rebatendo invertida e destorcidamente o discurso que tentam todos os dias nos fazer engolir.

Sou apenas um Juliano brincando e brigando na arte (seja lá o que isso for).